exposições - "Encontros Alados"

4 Outubro - 30 Novembro 2011

Galerias: MAC álvares cabral

Artistas: Roberto Chichorro

Conheci-o há muitos anos, quando a nossa África era intranquilidade, pesadelo e angústia, e para mim um mistério desafiador. Aprendi com ele sabores e sons e palavras gostosas. Comungámos alegrias, tristezas, ritmos, gargalhadas, lágrimas. Passou muita vida e muito depressa. E nunca lhe disse que a sua pintura sempre me deu felicidade. Mesmo quando os olhos pestanudos das mulheres eram fendas doloridas debruçadas de janelas sonolentas; mesmo quando por uma época o azul terno deu lugar ao verde depressivo e doloroso, na sua pintura encontrei sempre uma agradável tranquilidade com uma canção serena soando ao fundo. E não lhe disse. Roubei-lhe, numa tarde ensolarada de Setembro, um passarinho solitário atrás de uma grade. Ele fez as capas para os meus livros. Mas não lhe disse. Chegou o momento. Roberto Chichorro, surpreende-nos agora com “Encontros Alados”. E de dentro dos seus azuis deslumbrantes gritam os encarnados sumarentos e os roxos dos poentes longínquos num linguajar quente e sedutor. Sob a alvura de cal das suas luas imponentes, as caprinas cabeças, duplicadas como as asas ou as nossas almas em escolha permanente de caminhos e soluções, impõem-se-nos maciças e gostosas, num riso brando que nos afaga e apazigua. De facto, não se trata simplesmente de pintura, da tradução das coisas simples em traços e tinta. Chichorro é um poeta que usa os pincéis para descrever o quotidiano do nosso interior primário, onírico e esvoaçante. É a janela sempre aberta para a noite infinita e fraterna, a liberdade primitiva de sonhar iluminada pela lua sempre plena e branca. Chichorro é África. Nos gatos e nos pássaros, nas janelas e nas gentes. A africanidade índica, quente, espessa, vasta, sabedora e gritantemente silenciosa, que ele nos transmite no colorido vigoroso da sua poesia, nas mulatas que a povoam e nos comovem, nos bichos humanizados e nos homens e mulheres tranquilos, e nos conduz ao mais íntimo dos nossos sonhos. E, nesse espaço de fantasia e esperança, ternura e sorriso, nos damos encontros alados.