exposições - "A tua saia e o azul mais escuro da noite"

5 Abril - 29 Abril 2011

Galerias: MAC sol ao rato

Artistas: Ricardo Paula

Tic-tac, tic-tac, tic-tac… - Já é quase meia-noite! – sobressaltada, a Cinderela desliza dos braços do príncipe e corre em direcção à saída… - Já é quase meia-noite! – repete, apressada… Como se vive, sem pelo menos uma vez na vida ter ouvido uma história de encantar? O sobressalto das histórias que, por mais que fosse antecipado, fazia o coração disparar e sustinha a respiração. Numa história, todo o inventário fantástico – contado e gravado na memória – todas as notas tiradas à margem como fragmentos e registos, articulam-se na ordenação de tempos e espaços que não vivemos. Mas sonhámos. Um dia, conta-se a última história, sem se anunciar como a última, sem o tom grave do abandono ou da despedida. E nem as noites seguintes fazem suspeitar que aquela foi a derradeira. O contar de histórias é entendido por Ricardo Paula como missão. Pressente os retalhos de uma história em perigo e nela investe todos os seus esforços. Filiado no vigor da neo-figuração, reflecte uma identidade entrelaçada em mitos populares, lúdicos e familiares, vivenciados em atmosferas inequivocamente azuladas, nebulosas, em que se adivinham tramóias mágicas, arquitectadas no universo do eterno feminino. Assim, apresenta-nos duas exposições que, aparentemente díspares, se cruzam em descrições que mostram e escondem enredos de amor e desamor, príncipes e princesas, fadas e irmãs malvadas, em que se pressente a existência de uma atmosfera de tensão irónica. E erótica. Um quotidiano carnal, íntimo, em que se adivinha a permanência do desejo. Sentimentos por vezes embaraçosos que passam pelo pulsar do corpo e arrepio da pele, são enaltecidos e sancionados numa travessia de ambiguidades que resulta das horas de efabulação a que o pintor se dedica, despovoando a nossa memória do imaginário tradicional, mas permanecendo no território do que pode ser reinventado, dito e documentado em tela. Nada sobra, nem um só traço que não seja essencial. Uma vez mais, o MAC – Movimento Arte Contemporânea orgulha-se de acolher nos seus espaços obras plenas de conteúdo alegórico que se cumprem entre a constante inovação e maturação técnica, num compromisso entre realidade e ficção… tic-tac, tic-tac, tic-tac.